História de Rio dos Cedros e sua Colonização

Escrito por Andrey José Taffner Fraga

Artigo publicado na Revista História Catarina - Ano III - Número 14 - Set/Out 2009 - Editora Leão Baio (Lages/SC)


Vila Encruzilhada

O Vale do Itajaí, além de sua população de descendência germânica, possui um grande número de descendentes trentinos, sendo, atualmente, considerado como a maior comunidade trentina fora da Itália. Em meio a esse vale destacamos a história de Rio dos Cedros, primeira colônia trentina de Santa Catarina e uma das primeiras todo o Brasil.

A colonização do vale do Itajaí teve início com a vinda do Dr. Blumenau e os imigrantes alemães, em 1850. Apenas em 1875 chegaram os primeiros imigrantes trentinos, todos provenientes do antigo Tirol austríaco, ao qual a região Trentina pertencia.

A denominação Rio dos Cedros foi dada pelo desbravador August Wunderwald em 1863, em uma de suas expedições pelo rio Itajaí-Açu. O nome surgiu devido a grande quantidade da árvore de madeira de lei Cedro, existentes a margem do rio na época.

A colonização de Rio dos Cedros tem início com um grupo de imigrantes provenientes de Mattarello (TN, Itália), que deixaram sua cidade natal em 1875. Esse grupo foi o primeiro contingente de imigrantes trentinos da cidade e também de todo Estado de Santa Catarina (sendo também um dos primeiros, senão os primeiros de todo o Brasil). O grupo embarcou no porto de Trieste em 1874, chegando a Rio dos Cedros em princípios de 1875; era formado pelas famílias Bertoldi, Bonatti, Carlini, Felippi, Marchetti, Nardelli, Perini, Piseta, Tafner, Uber, Slomp, Tomasini, Baldessari, Moratelli, Dalmonico, Lenzi, Bendotti, Sevegnani, Froner, Nicolussi, Miori, Pagnelli, Stinghen, Zatelli.


Santo Antônio

Esse grupo pioneiro se fixou onde atualmente existe a comunidade de Santo Antonio, antigamente era chamada de Mattarei, em homenagem a terra natal dos imigrantes. O inicio foi extremamente árduo, após a chegada e a recepção no centro da colônia de Blumenau (a qual rio dos Cedros pertencia na época) os imigrantes foram encaminhados por tifas floresta adentro até chegaram às terras da região de Pomeranos, em alemão "pommernstrasse" (nome devido a anterior colonização alemã, vinda da região da Pomerânia, norte da Alemanha). Toda essa região de Pomeranos foi a primeira via de colonização trentina na cidade, até hoje é possível encontrar diversos e belíssimos casarões coloniais dos tempos iniciais da cidade.


Capela N.S. Dores, Crosara
O segundo grupo de imigrantes seguiu pelo mesmo caminho dos imigrantes anteriores, a região de Pomeranos, fixando-se na atual Crosera (encruzilhada). Eram imigrantes vindos de Centa, Valda, Albiano, Segonzano, entre outras comunidades (TN, Itália) no ano de 1875, composta das seguintes famílias: Stinghen, Dalpiaz, Bardin, Negri, Vicenzi, Furlani, Leitempergher, Girardi, Bortolini, Zatler, Mattedi, Odorizzi, Campregher, Tecila, Trentini, Dematè, Pradi, Demarchi, Giovanella, Piazzera.




Casa da Família Dall´Agnolo




O terceiro grupo de imigrantes continuou pela região de Pomeranos, seguindo mais adiante até pomeranos-médio ou central, fixando-se onde hoje existe a tradicional comunidade de Caravaggio. Era um grupo que também deixou o Trentino no ano de 1875, a maioria proveniente de Samone (TN, Itália), por isso a comunidade de Caravaggio foi por vários anos chamada de “Samon” e seus habitantes de Samonati. Foi fundada pelas seguintes famílias; Lenzi, Tais, Paoletto, Mengarda, Giampicollo, Anesi, Tomaselli, Molinari, Pedrei, Trisotto, Dall´Agnolo, Fattore, Campestrini, Zanghellini e Nicollodelli.




Estrada Pomeranos


O quarto grupo de imigrantes seguiu até o final da região de Pomeranos, fixando-se onde hoje existe a comunidade da Glória, também chamada de “busa” (Buraco). Eram imigrantes provenientes de Cavedine (TN, Itália), entre outras cidades, que deixaram o Trentino em 1876; o grupo era composto pelas seguintes famílias: Cattoni, Berti, Anesi, Bagatoli, Recchia, Demarchi, Berlanda, Moltrea, Gadotti, Bridarolli, Brighenti e Zani.

Quando o quinto grupo de imigrantes chegou a região de Pomeranos já estava totalmente povoada, então eles seguiram pelos leitos do rio dos Cedros até chegar na confluência com o rio São Bernardo, instalando-se onde hoje é o centro (sede) da cidade. Eram imigrantes vindos de diversas cidades trentinas; Volano, Ospedaletto, Strigno, Torcegno, Fornace, Mattarello, Centa, entre outras. O grupo era composto das seguintes famílias: Rafaelli, Dallabrida, Pedrelli, Agostini, Volani, Dorigatti, Zanella, Bertoldi, Nasato, Floriani, Vasselai, Voltolini, Ropelatto, Osti, Campestrini, Murara, Prade, Largura, Schuster, Busarello, Trisotto, Purin, Agostini, Berti, Paternolli, Sandri, Bona, Longo, Rikter, Corrente, Giacomozzi, Menestrina, Paterno, Valandro, Leitempergher, Trentini, Bassani, Demarchi.


Centro de Rio dos Cedros

Esse quinto grupo veio em levas sucessivas e desordenadas a partir de 1876, ocuparam diversos caminhos e tifas que hoje compõe a região central da cidade.Em 1901 foi inaugurada a primeira igreja da comunidade, que ficava na colina onde hoje se situa o Centro de Formação, era um edifício de rara beleza e que foi demolida em 1972, devido a construção da atual matriz da cidade. A perda causada por essa demolição, em termos arquitetônicos e históricos foi imensa.

O sexto grupo de imigrantes colonizou a atual Estrada dos Tiroleses, que parte do centro de Rio dos Cedros até chegar ao município de Timbó. O nome Estrada dos Tiroleses foi dada por que seus imigrantes eram provenientes do Tirol, estado do antigo império Austro Húngaro ao qual a região trentina pertenceu até o ano de 1918, quando foi anexada à Itália. Estrada dos Tiroleses foi um nome genérico, pois todas as outras comunidades até aqui citadas também foram colonizadas por imigrantes tiroleses (trentinos). O grupo foi composto pelas seguintes famílias; Carlini, Ossemer, Chigna, Zanluca, Cechini, Bartanone, Dematè, Conti, Nones, Cristofoletti, Mazzi, Pasquali, Dallabona, Zanghelini, Coratti, Moser, Trentini, Oberziner, Gretter, Tomasini, Pellin, Darui, Salvatore, Valcanaia, Devigigli, Mastelotto, Chiste, Schiochet, Spalanzani, Bertofa, Tiso, Nazatto e Zanella.



Bananeiras

A partir desse sexto grupo, a colonização da cidade não pode mais ser divida em levas. Diversos outros imigrantes vieram, e os que já estavam na cidade passaram a se mudar internamente fundando outros povoados na atual região serrana de Rio dos Cedros. A atual comunidade de São Bernardo foi fundada por imigrantes provenientes de Belluno, da região do Vêneto (Itália). É uma das poucas comunidades fundadas por italianos não-trentinos. Foram as famílias Schiochet, Brancher, Feltrin, Largura, Andreazza, Lazzarini, entre outras.

Rio fortuna foi a última comunidade fundada por imigrantes trentinos, composta pelas famílias Furlan, Zanghelini, Ossemer, Tamaninis, Odorizzi, Gretter, entre outras. As demais comunidades na região serrana de Rio dos Cedros foram fundadas por filhos de imigrantes, ou imigrantes que se deslocavam para outros lotes. Também contribuíram para o acréscimo populacional nessas comunidades os imigrantes alemães e poloneses, que chegaram à cidade.


Antigo centro de Rio dos Cedros


O início foi bastante árduo para todos aqueles imigrantes. Os lotes de terra estavam cobertos pelo mato, a maioria das promessas feitas pelos agentes da colonização não foram cumpridas, e para piorar, o clima e a floresta eram muito diferentes daqueles que eles conheciam da Europa. Com todas as adversidades, vê-se que foi apenas com o trabalho incansável, o suor, o sangue e a fé inabalável dos pioneiros que fez brotar uma bela cidade.

Em 1916 a pequena comunidade foi elevada a categoria de Distrito de Blumenau, sob o nome de Encruzilhada. Em 1934 foi criado o município de Timbó, que foi desmembrado de Blumenau. Rio dos Cedros, então, passou a ser Distrito de Timbó, adotando em 1942 o nome de Arrozeira devido à inauguração de um canal de irrigação para as arrozeiras do local.

Finalmente, em 19 de dezembro de 1961, pelo Decreto-Lei Estadual nº 793, foi criado o município, adotando o nome original de Rio dos Cedros.


Avenida Tiradentes 1950

Atualmente, Rio dos Cedros é uma cidade próspera, belíssima e com grande potencial turístico, especialmente na Região dos Lagos. Além disso, o município tem grande destaque por ter preservado sua cultura, através do dialeto (tão falado na cidade), da culinária, dos casarões colônias e das festas.


Desenvolvido por: Renan Taffner e Andrey Taffner
Agradecimentos: Marcel L. Zanluca