Província de Trento - Aspectos Históricos

Texto e fotos por Andrey José Taffner Fraga


Borgo Medievale di Ville del Monte

Pertencente à cordilheira dos Alpes europeus, a Província de Trento é certamente uma das regiões mais belas do mundo. Geograficamente inserida em meio ao norte alemão e o sul italiano, percebe-se a grande influência que esse encontro de culturas deixou na região. Um legado até hoje transmitido e preservado entre os moradores locais, através do dialeto, das danças, e dos próprios hábitos de vida, que os imigrantes trouxeram para o continente americano.

A Província de Trento está inserida na região italiana denominada Trentino - Alto Adige, que além de Trento engloba também a Província de Bolzano (Südtirol), onde prevalece o idioma alemão. Essa região italiana faz divisa com a Áustria, e por vários séculos esteve subordinada aos condes do Tirol. Somente após a I Guerra Mundial que passou a ser italiana, contando, todavia, com autonomia política e econômica, em detrimento às demais regiões italianas. Tal fato deriva de uma série de acontecimentos históricos, que ora passa-se a analisar.


Pré-história

Os primeiros assentamentos são datados de 7.800 a.C. e, as primeiras comunidades estáveis, de 4.000 a.C. De 1800 a 1600, difunde-se na região a prática da construção sobre palafitas e surgem também os primeiros objetos de bronze.


Chiesa San Virgilio - Pinzolo

Outro fator importante na historia trentina ocorreu 500 a.C. (durante a 2ª idade do ferro), quando os historiadores identificam uma unidade cultural que ia desde os pré-Alpes do Vêneto, passando por Trentino e Bolzano até o Tirol. Essa grande área cultural foi batizada de Território Fritzens-Sanzeno, e seus habitantes identificados como réticos. Esse povo manteve relações comercias e culturais com os Celtas, o que foi um fator importante para a sua futura formação cultural.


Sob a órbita de Roma

O território trentino foi vagarosamente sendo absorvido pelo poderoso Império Romano. Deu-se início com o desenvolvimento de cidades e toda infra-estrutura romana, como termas, fórum etc. A cidade (hoje em dia Trento) passou a chamar-se Tridentum. Posteriormente, foi sendo concedida a cidadania romana aos moradores de seus vales.

A partir do século III d.C. começaram a ocorrer invasões de povos germânicos no território romano. Depois da incursão de diversos guerreiros, entre eles Átila em 451, no território trentino, a região teve um período de relativa paz sob o comando de Teodorico (493-526). A partir de 569, Alboino, que era o rei dos Longobardos, criou o Ducado de Trento, e confiou o seu controle a Evino. Este, para resistir ao assalto dos Francos, se uniu aos Bávaros, casando-se com uma princesa alemã.

Todavia, em 773, os Francos se apossam de Trento, transformando-o em condado. A partir de 800, Carlos Magno, rei dos Francos, é coroado imperador pelo Papa, e surge assim, o Sacro Império Romano Germânico, do qual a região trentina passaria a fazer parte.

O principado de Trento

A região Trentina passou a ser um importantíssimo território dentro do novo império, devido a sua posição estratégica entre o norte alemão e o sul italiano: era caminho obrigatório por onde os germânicos passavam para serem coroados reis pelos papas em Roma. Devido a este fato, os reis tinham o máximo interesse em garantir a paz na região, sendo que para governá-la foi instituído o cargo de príncipe-bispo. Funcionava da seguinte maneira: um conselho especial da Catedral (Capítulo da Catedral) em Trento escolhia uma pessoa para ser nomeada governante. Tal pessoa então recebia o poder temporal do imperador (príncipe) e o poder religioso do Papa (bispo). Dessa forma o governo era leal a ambas as partes.


          Burg Taufers

No ano de 1004, Enrico II, que estava a caminho de Roma para ser coroado, concede ao Bispo Udalrico II o poder temporal sobre o Contado de Trento. Em 1027, Conrado II, voltando de Roma, confere ao bispo de Trento soberania sobre o território. A partir de então, o bispo de Trento passou a contar com uma soberania gigantesca: era feudatário direto das terras, e só respondia ao Imperador.

O príncipe-bispo tinha poderes legislativos, executivos e judiciários, porém, devido a sua posição dentro da Igreja, não podia possuir força armada. Sendo assim, o príncipe-bispo se via obrigado a recorrer a outros senhores para garantir a paz em seu território. O fato de procurar ajuda externa era, todavia, muito perigosa; os senhores que ofereciam a força militar poderiam não ser fiéis o tempo todo, e se aproveitando da fragilidade do território indefeso, tomar o seu comando.

A partir de 1200, os condes do Tirol foram se encarregando do controle militar da região trentina. Sua força era muito grande, e de seu castelo, em Merano, passaram a dominar a região que corresponde hoje o Trentino - Alto Adige até o Estado do Tirol, na Áustria. Toda essa região foi então batizada com o nome desse mesmo castelo dos condes: Tirol.

O ano de nascimento do Tirol é 1248. A partir de 1363 o Condado do Tirol passa ao controle da Casa da Áustria, com a qual permanecerá, excetuando-se pequenas interferências, até o ano de 1918.


    Santo Antonio di Mavignolo

Um importante evento ocorrido no período em que Trento era principado foi o famoso Concílio de Trento. O Concilio ocorreu em um momento europeu extremamente delicado, em que o protestantismo avançava, e a Igreja Católica viu-se obrigada a tomar alguma atitude. A escolha de Trento como sede para o Concílio foi devido a sua posição estratégica, e por ser território autônomo sob o comando de um príncipe-bispo. O Concílio teve longa duração, e pode ser dividido em três etapas: de 1545-49, período em que ocorreram dez sessões (em 1547, foi transferido para a cidade italiana de Bolonha, devido a uma ameaça de peste em Trento); de 1551-52, período em que ocorreram apenas duas sessões; e, por fim, de 1562-63, período no qual o papa Pio IV convocou novamente todos os membros do concílio e, com eles, tomou as mais importantes decisões da igreja. O Concílio foi, então, encerrado.

O furacão napoleônico

A partir do século XVIII, a região trentina passou a sofrer, assim como o resto da Europa, com o poderio militar de Napoleão Bonaparte, que pretendia estender sua influência sobre toda a Europa. Em 1796 ocorre a primeira invasão das tropas napoleônicas em Trento. Nessa ocasião, dentro de todo o território trentino, as tropas de Schützen (sìzzeri, em italiano, que significa atiradores), partiram em defesa de sua terra, sendo que a ocupação francesa durou apenas poucos meses.


Castel Buonconsiglio
Os Condes do Tirol passaram, novamente, a controlar o principado, sendo que já pensavam em uma nova forma de organização política. Em 1797, todavia, os franceses contra atacaram, conseguindo retornar a Trento. O exercito austríaco, por sua vez, com uma poderosa contra-ofensiva, derrota Napoleão, expulsando-o novamente.

Em 1801 ocorre a terceira e última invasão Napoleônica a Trento, porém, em fevereiro do mesmo ano, é assinado o acordo de paz entre França e Áustria. No ano seguinte, o governador do Tirol chega a Trento e toma o controle da província. Em 1803 é oficializada a secularização de Trento, ou seja, estava encerrada a regência dos príncipes-bispos sobre o território.

Sob o domínio austríaco, a situação começava a se normalizar em Trento, mas a sombra de Napoleão ainda rondava a região: em 1805 Napoleão torna-se o rei da Itália, e no mesmo ano entra em guerra contra a 3ª Coalizão, da qual a Áustria fazia parte. Com a vitória de Napoleão, toda a região do Trentino-Alto Adige passa ao controle da Bavária (que era aliada de Napoleão).

O domínio bávaro sobre a região tirolesa se desgastou com o tempo, sendo que passou a desagradar a maioria da população. Nesse período, surge uma figura de vulto e de grande importância na história tirolesa: Andreas Hofer. Taberneiro de origem humilde e fortemente ligado a sua cultura, torna-se o líder da rebelião tirolesa contra o governo bávaro. Ele passa a comandar a tropa de atiradores (schützen), que entra em confronto


  Santuario San Romedio

com as autoridades bávaras. Em 1809, Andreas Hofer, frente a seus aliados entra triunfante em Innsbruck (capital do Tirol) e torna-se seu governador. Em outubro desse mesmo ano é assinada a paz entre Baviera e Áustria, sendo que esta concedeu o Tirol a Bavária. Hofer sentiu-se traído, e para piorar, ocorria nova ofensiva francesa, envolvendo a população tirolesa em novo conflito. Em 1810 Hofer é capturado e fuzilado. Até hoje, persiste na região tirolesa a imagem de Andreas Hofer como símbolo de luta pela cultura local e como força contra a intervenção externa.

Nesse mesmo ano, 1810, França e Bavária selam acordo, e decidem transferir a região do Trentino Alto-Adige para o reino Itálico (sob o controle de Napoleão). Tal fato traz algumas melhorias para a região, e desenvolve também um sentimento de italianidade nos trentinos.

Porém, nos anos seguintes Napoleão começa a se enfraquecer, principalmente depois da grande derrota sofrida na Rússia, o que encoraja a Áustria a retomar a guerra contra o invasor. Em 1813, reconquista a região trentina, sendo que então, todo o Tirol volta ao comando austríaco, por onde permanecerá pelo próximo século.


Trento no império Austro-Húngaro

Trento voltou a fazer parte da Áustria, inserido novamente no Condado do Tirol. A organização política era agora bem diferente, existia no condado governador e vice, juntamente com oito conselheiros e a Dieta Tirolesa. A Dieta era uma espécie de câmara, onde estavam presentes representantes de diversas partes do território tirolês. A participação trentina era relativamente desproporcional na Dieta.


     Piazza Duomo

A população camponesa trentina era de índole conservadora, e pouco propensa a mudanças, olhando sempre com desconfiança para movimentos de caráter nacionalista. Todavia, a burguesia e as classes políticas no trentino começaram a sustentar idéias de caráter nacionalista italiano, e passaram a exigir uma autonomia para a província trentina, pois segundo eles, a Dieta Tirolesa tinha olhos apenas para a população alemã (grande maioria) do Tirol.

Em 1848, ano de grandes revoltas em toda Europa, ocorre a sublevação trentina. Irredentistas (nacionalistas italianos) aliados com os Corpi Franchi (voluntários italianos) levantaram armas exigindo autonomia em relação a Áustria. Depois de uma agressiva contra-ofensiva austríaca, os rebeldes foram facilmente derrotados.

Em maio do mesmo ano, deputados trentinos dirigiram um apelo com diversas assinaturas a Dieta de Innsbruck (a Dieta Tirolesa), com um pedido de autonomia. Com a rejeição, boicotaram a Dieta Tirolesa e seguiram com seu pedido para a Assembléia de Frankfurt, na Confederação Germânica, pedindo mais uma vez a autonomia. Tendo novamente seu pedido negado, os deputados se dirigiram a Assembléia Constituinte em Viena. Continuaram boicotando a Dieta Tirolesa, mas passaram a defender suas idéias na nova constituinte austríaca. Nesse período, surgem os Comitês Pátrios, defendendo o caráter italiano, e as necessidades do Trentino. Em março de 1849 foi publicada a nova Constituição austríaca, favorável ao centralismo e com o predomínio alemão.


   Torbole
O movimento irredentista trentino passou então a lutar não apenas pela autonomia política da província, mas também para que ela fosse definitivamente anexada ao reino itálico. Com o início das guerras pela formação do Estado italiano, diversos trentinos pegam em armas para lutar ao lado de Garibaldi. Em 1849, durante a primeira guerra pela unificação, trentinos lutaram como voluntários pela defesa de Veneza e Roma. Em 1859, durante a segunda guerra, aproximadamente 150 trentinos se alistaram nos exércitos garibaldinos. Em 1866, durante a terceira e definitiva guerra, 293 trentinos se alistaram para a guerra. Garibaldi já avança pelo norte e preparava para tomar Trento quando recebeu ordens do rei da Itália para retroceder. No mesmo ano foi assinado o tratado de paz entre Itália e Áustria, sendo que ficava concedida para a Itália o Vêneto, e para a Áustria o Trentino.


Em 1867, ocorre a fusão das casas reais da Áustria e da Hungria, surgindo o famoso Império Austro-Húngaro, ao qual Trento passou a pertencer. Durante os anos seguintes, diversos partidos de caráter nacionalista italiano começaram a surgir nas classes burguesas e políticas de Trento. Em 1871 surge o Partido Liberal Burguês, cuja plataforma apoiava a união com a Itália.

Foi nesse período também que a região trentina entrou em profunda crise: a agricultura, praticada da mesma forma durante séculos começava a dar sinais de desgaste, a população aumentava, mas a área de cultivo diminuía, e a oferta de alimentos era escassa. A sericicultura (produção de seda), importante indústria trentina entrou em colapso com uma praga que dizimava os casulos do bicho da seda. A produção manufatureira da região perdia com a concorrência alemã, e ainda por cima, estava privada de seus principais mercados, o Vêneto e a Lombardia, que agora faziam parte da Itália. Com todos esses problemas, aliados ainda ao fato de que a maioria absoluta da população era de agricultores dominados pelos “senhores do tirol”, ocasionaram um dos fenômenos que mudou definitivamente a vida na Europa e em outras partes do globo; a imigração.


            Trento

A imigração, de certa forma, sempre fez parte da vida dos trentinos, mas tratava-se de imigrações temporárias, passavam algum tempo trabalhando em país estrangeiro (geralmente Alemanha) para depois retornarem a suas vilas. Dessa vez, entretanto, a imigração era de caráter permanente. Diversos agentes de companhias começaram a difundir a idéia de uma nova vida no continente americano, onde era prometida fortuna fácil para os pobres. Diversas famílias aderiram ao programa, vendiam suas propriedades, e com o pouco que juntavam, compravam a passagem definitiva para a América.

Dos vales da Valsugana, Primiero, Cembra e Adige vieram a maior parte do contingente para o Brasil e Argentina, durante os anos de 1870-1880. Na cidade de Rio dos Cedros, os primeiros imigrantes chegaram em 1875, provenientes do Valle dell´Adige. Os imigrantes trentinos tiveram uma presença muito marcante no Brasil, especialmente nos Estados do sul, onde formaram grandes colônias e fundaram cidades, algumas das quais, permanecem até hoje com forte presença de descendentes, da cultura e do dialeto trentino, a exemplo de Rio dos Cedros, Rodeio e Nova Trento, em Santa Catarina.


Superando a crise


    Dolomiti Orientali

Aos trentinos que permaneceram na Europa, a situação foi gradualmente melhorando. Com a saída dos emigrantes, as oportunidades melhoraram, e surgiu uma nova tática de progresso econômico: a cooperação, desenvolvida principalmente pelos sacerdotes, que pregavam a união e a fraternidade. A primeira cooperativa surgiu em 1890, incentivada pelo padre Lorenzo Guetti. No ano seguinte surge a primeira Caixa de Crédito Rural. Dessa forma, os camponeses trentinos tem como competir com outros mercados e como proteger seus produtos, formando uma grande rede de aliança, colocando-os em patamares de excelência nunca antes alcançados. A partir de 1893, quase todas as cidades trentinas contavam com uma cooperativa.

Nesse período de ressurgimento, aparece a figura de Paolo Oss Mazzurana, engenheiro, que trouxe grande mudanças na cidade de Trento, como plano de abastecimento energético, auto estradas e urbanização. Trento se torna a primeira cidade européia com instalação própria de energia elétrica e privada. Constrói também ferrovias para unir os vales a cidade de Trento.

Outra figura de importância histórica foi Cesare Battisti. Nascido em 1875, toma as rédeas do partido socialista trentino em 1899, e em 1990 funda o jornal Il Popolo. Reivindicou uma universidade de língua italiana na Áustria e lutou ao lado da Itália na Primeira Grande Guerra, onde foi capturado e morto.

A primeira guerra mundial

Com o início das ofensivas, mas de 60.000 trentinos foram convocados pelo exército Austro-Húngaro (ano de 1915) para os campos de batalha. Nos anos decorrentes da guerra, diversos trentinos foram presos por irredentismo, muitos dos quais imbuídos das idéias desenvolvidas por Cesare Battisti. A região trentina tornou-se campo de batalha, e diversos de seus moradores tiveram que evacuar os vales, muitos dos quais foram para a Itália. Em 1918 o exército italiano chega a Trento e toma a região. Encerrada a guerra, restava aos trentinos a duríssima reconstrução de suas vilas arrasadas, tendo em vista que a região foi uma das mais incendiadas pelo grande conflito.

Fascismo e a segunda guerra mundial

Conforme exposto, a Itália ocupou a província trentina em 1918. Trento foi governada por uma junta militar provisória até 1919, período em que foi formalizada a anexação trentina à Itália. Nesse mesmo ano foi assinado o tratado entre Áustria e Itália (Tratado de Saint German), que concedia à Itália o Trentino, o Alto Adige (Bolzano), a Istria e a alta bacia do Isonzo. Nos anos de 1921 e 1922 o Trentino foi governado por uma Junta Provincial, ou seja, teve sua primeira experiência de autonomia política. Entretanto, em outubro de 1922, partidários fascistas marcham sobre Trento e Bolzano, antecipando a grande marcha sobre Roma. Em 1924, estava instaurado em toda a Itália o regime fascista, acabando com qualquer sonho de autonomia trentina.


         Val dei Mocheni

A população trentina, de uma maneira geral, reagiu ao fascismo da mesma maneira que reagia a maioria das agitações políticas: mantinha-se distante e isolada em seus vales, sendo que as grandes agitações patrióticas aconteceram apenas nas cidades maiores, que eram poucas.

Em 1929 ocorre a grande crise, que levou a falência os bancos do Trentino Alto Adige. O governo da inicio então a grandes obras, com o intuito de retomar o crescimento. Nesse aspecto, a província de Bolzano foi muito mais privilegiada que Trento, contanto com gigantescos investimentos em auto estradas, indústrias, o que deixava a população trentina irritada. Tal atitude do governo visava uma tentativa de pacificação na região, pois Bolzano tinha uma população predominantemente alemã que lutava para voltar a ser território austríaco. Com as obras, o governo buscava, além de acalmar os ânimos, fazer com que outros italianos imigrassem para a região, provocando uma “italianização" daquele território.

Em 1939 tem inicio a segunda grande guerra, e no ano seguinte Mussolini entra no conflito ao lado de Hitler. A guerra causa uma certa agitação no Trentino: especulava-se a possibilidade de que uma Alemanha vitoriosa voltar a anexar o Alto Adige aos territórios germânicos. Em 1943, após desastrosas operações militares, cai o governo fascista.

Hitler, no mesmo ano, vem em socorro do aliado, retomando o controle de parte da Itália dos rebeldes. É criada a República de Saló, último reduto dos fascistas italianos. É criada também, em setembro de 1943, a Zona de operações Pré Alpes - Alpenvorland - que compreendia Trento, Bolzano e Belluno. A área era estratégica no conflito, e Hitler fez de tudo para garantir a tranqüilidade na região.

Em 1945 tem fim o grande conflito, que mais uma vez, deixaria marcas profundas no Trentino e em toda a Itália. Para a reconstrução italiana foi imprescindível a figura de Alcides Degaspari. Nascido em 1881, em Pieve do Tesino (Trentino), já havia sido eleito deputado em 1921 e esteve presente na formalização do acordo de anexação de Trento ao Estado italiano. Sofreu perseguições no regime fascista, e com o término deste, voltou a cena política. Tornou-se primeiro-ministro e com toda sua obra ganhou o slogan de “homem da reconstrução da Itália”.


Questão do Alto Adige e busca pela autonomia

A assim chamada “questão do Alto Adige” teve início com o tratado de paz entre Itália e Áustria, ao fim da primeira guerra (Tratado de Saint German), que trouxe os territórios de Trento e Bolzano para a Itália. A população de língua alemã (Bolzano) nunca se conformou com tal ato, e passou a lutar pelo retorno à Áustria, ou ao menos por uma grande autonomia política. Com o advento do fascismo, qualquer pretensão autonomista foi abortada devido ao grande centralismo político de Mussolini, que criou na região a Província da Veneza Tridentina, com capital em Trento. Com o fim da segunda guerra, e a queda de Mussolini, os políticos de Bolzano voltaram a lutar pela sua causa, com abaixo assinados e boicotes. Atos mais graves como terrorismo e luta armada viriam nos anos seguintes.


           Bolzano

Em 1948 é apresentado o primeiro Estatuo de Autonomia para a Região do Trentino Alto Adige. É conferido um aspecto tri-polar de poder; de um lado o poder da Região, e do outro o poder delegado as duas províncias. Para as províncias ficava o encargo de desenvolvimento cultural e civil, como a criação de escolas bilíngües (principalmente em Bolzano), a sustentação artística cultural, etc. Questões econômicas, de obras publicas, etc, ficou ao encargo do governo regional (Trentino-Alto Adige). Tal forma de autonomia fracassou. A província de Bolzano, a fim de se desenvolver com suas particularidades, precisava de autonomia para governar a sua economia. Então, em 1972, surge o novo Estatuto de Autonomia, conferindo a administração dos fundos para as respectivas províncias. Diz-se que a autonomia passou então da região para a província. Ao conselho regional compete discutir assuntos de comércio, de cooperação, de crédito. A junta regional tem representantes tanto de Trento como de Bolzano, e sua presidência é revezada entre um presidente de língua alemã e um de língua italiana.

 

O segundo Estatuto de autonomia, na verdade, fazia parte de um grande pacote de medidas aprovadas pelo governo italiano, em 1969, que visava pacificar a região. O pacote só foi completamente executado em 1992, sendo que no ano seguinte, pela primeira vez no século XX, o governo italiano realiza uma visita oficial em Viena.


Trentino hoje

O Trentino encontra-se na Região do Trentino Alto Adige, extremo norte da Itália. O Trentino se refere a Província Autônoma de Trento, enquanto Alto Adige se refere a Província Autônoma de Bolzano (parte alemã). O Alto Adige também recebe a denominação de Südtirol (Tirol Meridional) reconhecendo, assim, seu forte vínculo com o norte alemão.

A Província de Trento possui hoje um dos maiores índices de qualidade de  vida na Europa. A autonomia conquistada garante um excelente desempenho econômico, e sua posição, na área geográfica dos Alpes, lhe garante um fluxo constante de turistas, em busca das montanhas e da neve. A população, antes predominantemente rural, agora ocupa postos nas indústrias e na prestação de serviço. Apesar disso, a produção agrícola de Trento não caiu, devido ao uso de sofisticadas técnicas modernas. Trento continua sendo um grande produtor de vinhos (apreciados em toda a Europa), bem como produtor de queijos e diversas frutas.


Altipiano di Folgaria

Apesar de todo o avanço industrial, é no turismo que o Trentino encontrou sua grande vocação: milhares de turistas (especialmente alemães) buscam a região nas temporadas de esqui, ou em outras épocas também. O numero de pessoas que se dedicam a prestação de serviços relacionados ao turismo aumentou consideravelmente nas últimas décadas.

A qualidade de vida e o PIB da Região Trentina são superiores ao restante da Itália. Todos os vales, antes isolados pelas montanhas, agora estão ligados pelas auto-estradas, que atingem todo o território, trazendo integração e desenvolvimento.

A província também conta com uma universidade de excelência, procurada por muitos estrangeiros, inclusive brasileiros. O governo de Trento busca, atualmente, agregar os descendentes de imigrantes, que nos anos anteriores, tiveram que deixar sua terra natal em busca de oportunidades. Prova disso são os diversos Círculos Trentinos, espalhados pelo globo onde haja população descendente. Através desses órgãos que a província fornece a seus filhos distantes a oportunidades de estudo e intercâmbio.

 

Referências

FRANCHINI, Nicoletta. Il Trentino. Trento: Euroedi, 2002.

GIOVANNINI, Augusto. Trentino: i segni del tempo e degli uomini. Trento: Casa Editrice Pubilux, 1996.

ZIEGER, Antonio. Storia della regione tridentina. 2 ed. Trento: Casa Editrice Dolomia, 1991.

Desenvolvido por: Renan Taffner e Andrey Taffner
Agradecimentos: Marcel L. Zanluca