09/12/2014 - O “Talian” agora é patrimônio nacional

Andrey José Taffner Fraga

Conforme amplamente noticiado nas últimas semanas, o Talian, a língua dos imigrantes italianos/trentinos e seus descendentes perpetuada no Brasil, foi reconhecido como Patrimônio Nacional.

O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – incluiu, em reunião realizada em 9 de setembro de 2014, o Talian, e outras duas línguas, no INLD – Inventário Nacional da Diversidade Lingüística. Em 18 de novembro, o Talian foi oficialmente certificado como referência cultural brasileira.

O Talian, como explica o Prof. Dr. José Curi (natural de Rio dos Cedros), é uma “koiné”, ou seja, uma língua comum oriunda da junção de diversos dialetos de origem latina, como o trentino-tirolês, o vêneto, o lombardo, etc, e que sofreu interferências pelo contato com a língua portuguesa, no momento em que os imigrantes chegaram ao Brasil.

Em Rio dos Cedros, assim como em diversas outras cidades de origem trentina e italiana, o Talian é amplamente falado, nas ruas, nos comércios, e principalmente nas famílias. Em muitas casas, o Talian é a língua “oficial”, sendo o português falado apenas quando necessário.

Diversos pesquisadores já se dedicaram ao estudo do Talian e do dialeto trentino em Rio dos Cedros. O primeiro deles foi o Pe. Mario Bonatti, natural de Rio dos Cedros, grande pesquisador da história, cultura e dialeto trentino. Em 1974 publicou sua pesquisa intitulada “Aculturação linguística numa colônia de imigrantes italianos de S. Catarina” (Faculdade Salesiana, São Paulo, 1974), o primeiro trabalho publicado sobre o dialeto trentino de Rio dos Cedros, e um dos primeiros do Brasil a analisar o dialeto trentino. Esse livro foi também publicado na Itália, sob o título “Acculturazione linguistica. Il dialetto delle colonie trentine in Brasile” (S. Michele all'Adige, Trento, 1978).

Posteriormente, o Prof. Dr. José Curi publicou o livro de contos em dialeto “Raconti de Rio Cedro” (Editora da UFSC, Florianópolis/SC, 1984) e o livro de poemas em dialeto “Resta Quà con Noialtri” (Editora da UFSC, Florianópolis/SC, 1987). Nesses livros, por meio de contos e poemas escritos em dialeto, o escritor expôs o modo de vida e as tradições dos colonizadores trentinos e seus descendentes em Rio dos Cedros. Ele também publicou o estudo “A influência do Talian na fala catarinense” (em dois capítulos na revista Blumenau em Cadernos, mai/jun de 2005 e jul/ago de 2005), bem como o livro gramatical “El Talian – a língua dos imigrantes italianos de Santa Catarina” (Editora Garapuvu, Florianópolis/SC, 2009).

Além dos escritores, grupos tradicionais de Rio dos Cedros mantém vivo o dialeto trentino, como o Gruppo Folkloristico Compagni Trentini (antigo grupo Santa Notte), o coral do Circolo Trentino, e o Grupo Folclórico Colibri, que perpetuam diversas canções do dialeto riocedrense. Além desses, outro grupo se reuniu especialmente para gravar um CD, intitulado “Amicci Cantori del Folclore Italiano di Rio Cedro”, com todo o repertório dos antigos grupos que, durante os festejos natalinos, passavam de casa em casa entoando canções tradicionais e portando o presépio.

Por fim, o Circolo Trentino di Rio dos Cedros e o Gruppo Giovane Tosarami também contribuem para a preservação do dialeto trentino, tendo já realizado, em parceria com o Giuliano Berti (de Nereu Ramos – Jaraguá do Sul) e a Paróquia Imaculada Conceição de Rio dos Cedros, missas em dialeto trentino.

O reconhecimento do Talian como patrimônio nacional certamente será um grande incentivo para a sua continuidade e para as pessoas que se dedicam à sua preservação.

Vale lembrar que, dentre outros Estados, Santa Catarina já reconhecia o Talian como patrimônio histórico e cultural (Lei Estadual no 14.951/2009).

Para quem deseja conhecer mais sobre o dialeto falado em Rio dos Cedros, ou mesmo baixar material em dialeto (roteiro da missa e contos) basta acessar o menu “Il Nostro Dialetto”, no site do Circolo Trentino di Rio dos Cedros.



Voltar

Desenvolvido por: Renan Taffner e Andrey Taffner
Agradecimentos: Marcel L. Zanluca