18/12/2014 - Falecimento do Sr. Lino Vicenzi




É com enorme pesar que comunicamos o falecimento do Sr. Lino Vicenzi, ocorrido na tarde desta quinta-feira (18/12/2014).

Dono de uma história rica e inigualável, grande parte da memória histórica riocedrense se deve ao seu empenho. Além de ser veterano de Guerra (integrou a Força Expedicionária Brasileira e lutou em solo italiano durante a Segunda Guerra Mundial) foi um dos mais engajados membros da comunidade riocedrense.

O velório será realizado na Capela da Nossa Senhora do Caravaggio (Rio dos Cedros), e o enterro no cemitério da mesma igreja. Nessa comunidade o Sr. Lino viveu toda sua vida, e dessa Igreja participou ativamente também durante toda sua vida.


Quem foi Lino Vicenzi


Nascido em 15 de março de 1922, na comunidade do Caravaggio, em Rio dos Cedros.  Conforme costumava se lembrar, freqüentou a escola em sua comunidade até a quarta série, depois foi aprender com o professor José Brancher, na comunidade das Dores. Em 1938 fez o então chamado “Tiro de Guerra”, que era uma espécie de instrução militar, ocasião na qual calçou seu primeiro par de sapatos na vida (fabricado pelo “Naneto Tafner”). Em 31 de agosto de 1942, quando o então presidente da república, Getúlio Vargas, declarou guerra ao Eixo (Itália, Alemanha e Japão), foi convocado para o exército. Em março, na sexta feira santa de 1944, partiu para a guerra. Conforme suas memórias “tocou o alarme à 1h da madrugada no quartel em Blumenau, e às 3h partimos de caminhão para Jaraguá do Sul, onde tomamos o trem; o trem era do tipo cargueiro de gado, levamos três dias e três noites para chegar a São Paulo, na cidade de Caçapava; ficamos ali por três meses; enfim nós, 5300 soldados, partimos, em um enorme navio americano para a maldita guerra; nosso primeiro batismo de fogo (nosso primeiro combate) foi no dia 11 de setembro de 1944, o clima variava de 12 a 25 graus negativos com ocorrência de muita neve”. Ainda segundo Sr. Lino Vicenzi “a maioria dos soldados brasileiros eram agricultores que largaram o cabo da enxada para pegar no fuzil; para tomar Monte Castelo, muito falado na história nacional, foram necessários cinco combates, sendo que os primeiros quatro fracassaram; só nessa ocasião o Brasil perdeu 87 soldados, dos quais 22 ficaram sepultados na neve, só aparecendo quando ela derreteu; depois dessa, houve a tomada de Montese, que durou quatro dias e quatro noites, nessa ocasião perdi quatro dos meus companheiros riocedrences (Selvino Mengarda, Felicio Tomasini, Aléssio Venturi e Rafael Busarello); muitos soldados terminaram loucos ou atormentados, foi um verdadeiro inferno de fogo e fumaça!”. Com o fim da guerra, os soldados brasileiros foram direcionados para o sul da Itália, para Nápoles, retornando então para o Rio de Janeiro. Antes de voltar para Rio dos Cedros, Lino ainda passou algum tempo com seu irmão, Victor Vicenzi, que era diretor de um colégio e vigário de Santa Teresinha em Alto Santana (SP). Quando finalmente chegou a Rio dos Cedros, nas suas palavras “antes de mais nada fui ao encontro de minha mãe, só que não tínhamos palavras a dizer, apenas nos abraçamos fortemente e choramos, porque a alegria também faz chorar; minha mãe tinha chamado duas cozinheiras, a Anunciata Mengarda e a Alida Cattoni, que prepararam o melhor banquete do mundo; no dia seguinte, uma manhã de domingo, a casa ficou lotada de gente o dia todo”. De volta a sua cidade natal, continuou morando com seus pais, e retomou os trabalhos na roça. Casou-se com Esperança Dalmonico, com a qual teve os filhos José e Juvenal. Todavia, sua esposa faleceu prematuramente. Mais adiante, casou-se com Amélia Macoppi, com a qual teve os filhos Virte Dolores, Elizete Ida, Jurassi Vitor, Carmelita Iris, Teresinha Rosa e Julio Cesar. Mesmo tendo obtido a aposentadoria por parte do seu serviço militar, Lino Vicenzi trabalhou por muitos anos, tendo adquirido e administrado um bar e comércio em sua comunidade. Participou sempre ativamente de todas as atividades de lá, especialmente das atividades da Capela da Nossa Senhora do Caravaggio, da qual diz nunca ter perdido uma missa. Aprendeu com seu avô, Riqueto Cattoni, cantos e melodias religiosas e italianas. Fui um dos grandes incentivadores e participante ativo da velha tradição da “Santa Notte” em Rio dos Cedros (grupos de músicos que passavam, de casa em casa, cantando músicas natalinas, portando uma grande Estrala do Oriente e um presépio). Para que tal tradição nunca fosse esquecida, reuniu um grupo de adeptos e gravou o CD intitulado “Amicci Cantori del Folclore Italiano de Rio Cedro”. O CD foi bastante vendido e é procurado até hoje, sendo que já foi encaminhado para diversos cantos do país e até para o exterior. Diversos pesquisadores e historiadores, quando querem conhecer melhor a história e cultura de Rio dos Cedros, procuravam o Sr. Lino Vicenzi. Ainda em 2013, com auxílio de seu filho José Vicenzi Neto, publicou o livro “A vida de Lino Vicenzi – relatos pessoais de um veterano da FAB”, cuja leitura se recomenda a todos que tenham interesse pela história de Rio dos Cedros, do Brasil e do Mundo. Durante toda sua vida sempre foi muito requisitado, para palestras, homenagens e ocasiões solenes. Com o falecimento de Lino Vicenzi, Rio dos Cedros perde uma de suas maiores referências e um de seus mais ilustres filhos. Que a sua vida permaneça sempre como exemplo para as novas gerações.


Andrey José Taffner Fraga
Vice-presidente do Circolo Trentino di Rio dos Cedros



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